19.9.08

Mais que jingle

Música na propaganda é que nem o Cabeção em Brasíla: eterna.
Jingles sempre foram uma forma eficaz de ajudar na construção da marca. Seja por facilitar a memorização, ser divertido ou simplesmente chato.

Agora, o que pouca gente sabe, é que o contrário também acontece: a propaganda invade a música.
Esse tipo de prática é bem mais comum no cinema e na TV, onde é chamada de product placement. Mas, até agora, não era algo muito visto na música.

A Wired fez uma matéria sobre o assunto depois de receber um e-mail de um cara chamado Jeff Crouse.

Crouse é uma das pessoas por trás da Anti-Advertising Agency, uma proposta filosófica e conceitual que questiona o papel da propaganda. Dentro dessa idéia, ele criou uma empresa de jeans virtual, localizada somente no second life, que tinha outros desdobramentos por trás, mas que não vêm ao caso agora.

De qualquer forma, Crouse recebeu um e-mail de uma agência de Relações Públicas, perguntando se ele não gostaria de ter o nome da empresa dele em uma música de um artista famoso.

Vejam bem: o cara que mandou o e-mail é TÃO desavisado que pecou em dois momentos.
Primeiro, em não checar a empresa com a qual tentava negociar - sendo virtual e parte de uma idéia não-comercial, era improvável que aceitasse qualquer coisa do tipo.
E segundo, que falou com o único cara que faria disso uma questão pessoal. Se Crouse não acredita em propaganda normal, quem dirá em idéias invasivas como essa.

Resumindo a ópera: a empresa de R.P quer processar Crouse pelos danos morais que sofreu, já que houve retaliações de todo o tipo depois da divulgação do e-mail.

Não sei bem qual a minha posição sobre o assunto. Se, por um lado, acho violador o fato de um artista fazer propaganda por dinheiro utilizando seu trabalho, por outro não consigo ver diferença entre isso e o antigo mecenato, onde todo bom pintor, escultor e poeta era patrocinado por uma família.
A arte sempre esteve ligada ao dinheiro, e a noção de fazer arte para resolver questões pessoais é uma idéia extremamente nova.

Esse raciocínio não é meu, é do Jorge Furtado, em uma palestra na Perestroika.

Talvez o erro seja fazer isso de uma forma escancarada, sem a sutileza necessária para deixar a arte intocada e o produto aparecendo. O que, na real, é o papel de qualquer propaganda agora: informar/entreter sem invadir.

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