18.8.08

Em clima de Olimpíadas

Como um dos mais recentes membros dessa sensual equipe bloguística, fico meio receoso em postar. Por umas três vezes pensei em publicar alguma coisa que eu curtisse, mas por sorte (leia-se: por pesquisar no blog) descobri que estaria repetindo conteúdo.


Então resolvi aproveitar o clima olímpico pra falar de esporte. E contar uma história que, dentre a galera do blog, só eu conheço. Assim:


Era uma vez um sujeito gordo, que lidava com educação física. Mais especificamente, com handebol. Técnico de handebol. Trabalhava num clube e num colégio. Entre seus comandados, 14 piazinhos da mesma idade treinavam separados, devido aos horários de aula. Assim, jogavam com atletas mais velhos, eram mais exigidos, e se tornavam razoavelmente habilidosos.


Certo dia, todos passaram a estudar no mesmo turno, e começaram a jogar juntos. E o grupo ficou bom. Muito bom. Entre idas e vindas de alguns deles, essa geração conquistou tudo que era campeonato, e ganhou de tudo que era time. Como eram novinhos – 15 anos, no clímax da história – ainda não tinham idade pra participar de Campeonato Brasileiro, e de seleções. Ao menos, até o final da saga aqui narrada. Assim, o principal sonho da maioria deles era conquistar o Curitiba International Handball Cup, o então terceiro maior campeonato do mundo.


Numa tarde comum de treino, o nº5 do time escorregou na quadra molhada, bateu com o joelho direito numa coluna, levantou um bife de pele, e levou três pontos. Convenientemente, 15 dias antes do Curitiba. Mas mesmo sem condições de jogar, viajou com a delegação, pra apoiar os companheiros.


O maior adversário deles pelo título seria a Metodista/Petrobrás. Uma gurizada esforçada e honesta como qualquer outra, porém, um pouco mal vista pelos demais. Eu explico: primeiro, ninguém gostava muito da idéia de pagar impostos pra ajudar os adversários. Segundo, eram os atuais e maiores campeões brasileiros na categoria adulta, o que garantia certo arrego por parte da arbitragem. Terceiro, tinham um técnico cubano que enchia o saco a partida inteira: os juízes apitavam uns 30% do jogo, e ele, uns 70. Quarto, dizia-se por aí que a Metodista “convocava” os melhores de São Paulo pra jogar por eles, e muitos achavam injusto disputar contra um selecionado (apesar de que, sobre aquela geração em específico, nunca confirmei a veracidade da informação. Sobre outras, sei que os dados procedem). E por fim, eram os mais famosos do Brasil: o time a ser batido.


Na semi-final, a Metodista e o time do sujeito gordo se encontraram. Aqueles 17 (jogadores, treinador, auxiliar técnico e preparador físico) nunca esqueceram do apoio dos outros times antes da partida. Era “só vocês podem ganhar deles!” pra cá, “força, essa é a final antecipada!” pra lá, e muita motivação e incentivo àqueles ilustres desconhecidos.


O jogo foi épico. Apitado por aquele cubano chifrudo, é verdade. Mas emocionante. A partida esteve sempre em 1~2 gols de vantagem pra Metodista, ou empatada. O outro time jogava mal, muito abaixo do habitual. O rechonchudo técnico – que sempre foi mais grosso que baleia dobrada – passou 80% do tempo xingando o nº5, no banco de reservas: “IMBECIL! Como tu foi se quebrar? Essa partida era perfeita pra ti!”.


Foda.


E mais foda ainda foi o final. No handebol, o cronômetro não pára, exceto quando alguém se machuca, quando é tiro de sete metros ou quando a bola sai da quadra e vai pra longe. A Metodista vencia por 1 gol, e o outro time foi pro ataque com mais uns 20 segundos para empatar. Falta pro Recreio da Juventude (pronto, contei o nome do clube). A bola sai da quadra. De forma incrivelmente suspeita, o juiz não pausa o cronômetro, e o jogo termina com a pelota lá fora. Final: Metodista 18 X 17 Recreio.


Muita tristeza dos atletas, muito xingamento do técnico, muito apoio e palmas da torcida. Na disputa do bronze, o Recreio atropela o adversário, e na final, a Metodista também patrola, ambos vencendo por mais de 10 gols de diferença.


Tá, mas não foi pra lamentar pelo Recreio que contei essa história. O caso é que, toda vez que o jogo apertava pra Metodista, sempre o mesmo cara chamava a responsabilidade e resolvia: o nº18.


Onze gols (!) fez aquele guampa.


Anos depois, eu saberia que ele se chama Felipe Borges Dutra Ribeiro. Que atualmente joga num clube da Espanha – país detentor de uma das ligas mais fortes do mundo. Que o nº18 da Metodista de 2000 é hoje o nº17 da nossa seleção, onde é titular absoluto. Que foi campeão pan-americano no Rio em 2007. E que é a maior promessa do handebol brasileiro. E aliás, guardem esse nome: Borges, nº17. Aposto uma Xaxá de morango que, em no máximo 5 anos, ele será o melhor do Brasil.



Fico me perguntando: até onde eu teria ido, se não tivesse aposentado minha camisa 5?

Provavelmente não muito longe, considerando que a bola profissional é maior, e de 8 anos pra cá minha mão não cresceu nada. Mas e meus ex-companheiros de time? Como eu, todos largaram o handebol por causa dos estudos. Todos acreditavam que esse esporte não daria futuro. Talvez, tenhamos desperdiçado uma oportunidade excelente, devido à pouca perspectiva que tínhamos por causa do baixo investimento do Brasil em esportes.


Além de “porra, invistam no esporte 10% do que gastam em propina, políticos de merda”, penso o seguinte dessa história: foda-se se teu sonho é ser gari. Seja realmente bom, e tu vai longe.


Minha homenagem a essa galera com quem aprendi muito, e tive momentos ótimos.

(Aderindo ao Bronze Brasil: é nóis conquistando o lugar mais baixo do pódio!)




Preparador físico: Duda. Auxiliar técnico: Cabeça. Técnico: Fonseca. Em ordem alfabética: Basso, Cachaça, Dani, Fiu-fiu, Guiga, Gustavo, Java, Marco, Negão, Nena, Poletti, Ramos, Tomás e Turra (aos que não sabem de qual lado do pódio fica o terceiro, somos os de verde).


Depois desse campeonato, quando meu joelho ficou bom, treinei por mais uma semana, e fiz minha partida de despedida.


Coisas bem interessantes aconteceram com a galera antes e depois desse Curitiba Cup. Tipo viagem à Europa, seleção gaúcha/brasileira, gente jogando na Austrália, etc.


Mas essas histórias, conto outra hora. Ou não.


5 comentários:

Anselmo disse...

aaaaaaaaah rapaz, eu sou o unico do blog que ja conhecia a historia então? mas dessa vez eu achei ela mto mais tri. Fato. senão me engano a gente devia ta voltando de algum lugar e não deve ter dado pra prestar atenção direito, ou então tu encrementou ela, huehauiehae
to brincando =P

Diego Basso disse...

Nah, não encrementei. Na verdade até omiti alguns detalhes pra encurtar.

Acho que o jeito que te contei foi "bah, já joguei contra esse 17" =p

Anselmo disse...

nah, tu controu na integra... eu ja sabia q tu era o numero 5 logo de cara =P

Diego Basso disse...

Ah... bom, mas não vou editar o post pra dizer que tu já conhecia. Quem quiser saber, que leia os comentários.

u.u

Anônimo disse...

Que ótima nostalgia! Que tempo bom que nao volta nunca mais...(risos)
E vocês batiam UMA bola!!!!Bacana a contribuição meu amigo...ainda estou arrepiada!Por alguns segundos dá pra reviver o "estar em quadra"...
Abraços Máno Rech