Está na hora do povo abrir a cabeça. Apesar das pessoas trabalharem cada vez mais, se incomodarem cada vez mais e não ganharem cada vez mais. Apesar da correria infinita que o capitalismo impõe. Apesar de ser muito fácil a gente só pensar em trabalho. De manhã, temos que tomar café correndo por causa do trabalho. Correr pra parada de ônibus por causa do trabalho. Ficar olhando pro relógio dentro do ônibus com medo de se atrasar pro trabalho. E é só o começo do dia. A necessidade de fazer dinheiro e o pouco dinheiro que se ganha têm o poder de sufocar o cidadão. Ele passa a não olhar mais à sua volta, tamanha a preocupação em sobreviver.
E é aí que mora o perigo de virar um resmungão, um rabugento, um velho. O povo não pode parar de respirar. Ao invés de reclamar dos problemas, deve procurar impetuosamente os lados bons da vida. Até porque, todo mundo têm problemas. Financeiros, amorosos, de saúde. O cotidiano é cheio deles. Por isso mesmo, o povo tem que ser bravo. Eu digo bravura, porque é caso de vida ou morte.
Viver, pra mim, é estar sempre em busca da satisfação. Da felicidade. Seja pelas minhas conquistas, de acordo com o que eu aspiro do fundo do coração, seja enxergando como a vida é a fuder. Senão, eu viro um morto-vivo. Um zumbi. Uma das coisas que eu mais quero na vida é fazer as pessoas terem a mesma capacidade que eu tenho de ficar amarradão. De dizer “Que do caralho!", em vez de reclamar.
Vamos partir do comum: a música. A grande maioria da população mundial dá valor à música. Pra minha felicidade, ela tem o poder de animar, de pilhar o cara a entrar no clima. Ficar feliz pura e simplesmente por ouvir uma música e imediatamente parar de reclamar da vida. Isso mostra um pingo de sensibilidade que cada cidadão tem.
Nos casos mais relutantes, a pessoa foi tão impactada pela música, que acabou achando legal. Viu todos tão animados que entrou na dança. E isso é um ótimo sinal. Ouvir uma música não paga as contas de ninguém. Não traz o tipo de lucro que todos vivem procurando. Só o lucro subjetivo, que injeta um outro tipo de oxigênio. Por isso, pra não perder muito, mas muito do que a vida tem a oferecer, o povo precisa expandir esta sensibilidade. Esta capacidade que se desenvolve com a música e todas as suas irmãs: as artes.
Como é demais querer que o povo deixe de coçar o saco para ir a um museu, sugiro algo tão genial quanto as obras de arte. Algo que ontem me deixou maravilhado e faz falta em Porto Alegre: a arte de rua. Eu já conhecia os stickers, stencils e grafittis europeus. Mas ontem, folhei um livrinho fantástico (London Street Art 2), que me fez pensar em como seria um alívio se essa arte tomasse conta das nossas ruas. Roubando o lugar das milhares de pixações que poluem a cidade. Cobrindo todos os nomes de gangues e de pixadores escritos em preto. Dando vida ao dia-a-dia do cidadão. Encher os muros com mensagens, propostas, que fazem as pessoas esquecerem dos problemas e mergulharem num universo paralelo. Não só os muros, como acontece em Porto Alegre.
Encher portas, garagens, postes, carros, ônibus, prédios, o asfalto, a calçada. Aonde for humanamente possível botar arte. Porque um obreiro pode ignorar um ou dois stickers na rua. Mas é impossível ficar indiferente a 100 deles. Isso levaria toda a população a exercitar o músculo da sensibilidade. Assim, a vida de todos valerá muito mais a pena e teremos o tão desejado mundo melhor. O povo tem esse poder. Só precisa exercitar.
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Um comentário:
Realmente a arte é uma referência e tanto pra vida! E mais, a arte é um digno meio de inclusão social. Mas (sobrancelhas arriadas), no Brasil? Apagaram um muro em São Paulo da galera mais sinistra: Nina, Nunca, Vitché, Herbert Baglione e, dos caras, osgemeos. Onde termina a pixação e começa o grafitti? Cor, espaço, sombra? Onde é roubo e onde é fome? Idade, nível de pobreza, quantidade de bolsa-família? Não interessa! O que falta é investimento, vontade, faltam políticos engajados, parceria pp, faltam eles, tús, falta...eu? Eu usufruo e arrio as sobrancelhas!
Beto.
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